quarta-feira, setembro 13, 2006

Ser filho de Ninguém!

Assisti a um acontecimento que me deixou de rastos, ainda agora que já dormi sobre o assunto, fico … com um NÓ na garganta do tamanho do Mundo em que devíamos viver e não vivemos, Grande.
Hoje sinto-me “Tita”, desiludida com algumas pessoas que deambulam pela sociedade.

Bom, mas voltando ao acontecimento …
Um dos muitos miúdos que vive num lar da Casa Pia, espalhados por Lisboa, enquanto brincava com os seus colegas, caiu da varanda de um primeiro andar … A brincadeira era passar de varanda para varanda, pelas conversas que ouvi não era a primeira vez.

Mas agora vem a parte pior, o miúdo estava deitado no chão, só mexendo os olhos …

(e agora deixem-me respirar fundo…)

No meio desta confusão, ouviam-se comentários do género:

- já lhes tinha dito para não fazerem isso!
- são doidos!
- tu (uma miúda também do lar) é que foste a culpada, ele ia atrás de ti (ou seja ela já tinha passado de uma varanda para a outra)!
- já chamaram a ambulância, aposto que não! (esta foi das melhores e foi dia pela porteira do prédio em questão que se manteve dentro da porta encostada à parede, talvez para não se constipar!)

Resumindo, estas e outras frases do género eram ditas por pessoas adultas que pertencem à instituição ou que pelo menos têm contactos e convivem com ela no dia-a-dia, e que se mantinham encostadas por ali, afastadas do miúdo que continuava deitado no chão, e a olharem para os carros que iam passando.

A única pessoa, e aqui quero realmente referir mesmo “PESSOA” que se dignou a baixar-se junto da criança e fazer-lhe festas da cara enquanto a tentava acalmar e dizer-lhe para não se mexer, foi uma senhora que passava na rua, nem sei se não terá sido ela a chamar a ambulância!
Todas as pessoas supostamente responsáveis por aquela criança … estavam-se BORRIFANDO, e este é o termo correcto.

A única coisa que pensei … “estes miúdos são filhos de NINGUÉM”, ninguém está interessado neles, são só números que chateiam, ninguém lhes faz festas, ninguém lhes dá beijos, ninguém se preocupa …

(tenho que respirar outra vez…)

bom já disse o que vai na alma, parece-me que não basta dar-lhes de comer e uma cama, não sei, digo eu!

Só sei que esta constatação me fez chorar até casa, durante a noite e neste momento.
Será que eu não os posso adoptar todos? Não preciso de papéis, só quero mesmo conseguir tratar de alguns, fazer festas e dar beijos a alguns, como dou ao meu filho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Acho que nunca me tinha sentido tão mal em relação à sociedade em que vivemos hoje e da qual faço parte.

Pronto desabafei, não aguentava calar esta raiva.

P.S. o miúdo era tão magrinho que imagino que tenha voado e não caído, é a minha esperança.

7 comentários:

Marco Oliveira disse...

Adivinha quem me disse: "O meu irmão fez uma grande asneira... Matou um homem"

Já me tinham contado. Mas desta vez foi ela que confirmou. O irmão da R., que depois da morte da mãe foi para um orfanato no Porto, está envolvido no caso "Gisberta".

E recordei-me das palavras do professor deles, há alguns anos: "Pela moça talvez se possa fazer alguma coisa; mas o rapaz parece ser já um delinquente em potência". E não o dizia com indiferença, mas com frustração. Nãoo ia conseguir salvar aquele rapaz...

Bluejustin disse...

Ainda ontem abordamos esse assunto lá em casa...a falta que uma Mãe faz.

Faz de Conta disse...

Todos nós sabemos em que mundo vivemos... mas quando se tem uma prova destas, dói mais do que ser atropelado por um comboio...
Por esta criança, e por todas as outras que ninguém ama, vale a pena tentar mudar as coisas...

Bjos:o)

Anónimo disse...

:(

Teresa disse...

:'(

crispipe disse...

Somos o produto do meio em que vivemos infelizmente.
Quando puderes vê o filme "sleepers", é um horror, estive a vê-lo pela 5ªvez ontem no AXN e de todas as vezes choro.
Muito poucos conseguem "sobreviver" a maneira (ou falta dela) como são tratados.
O Amor, os mimos, tanta falta que lhes faz os mimos.
A maior parte dos "delinquentes" são "fabricados" em instituições como esta, em que só existem regras, muito desprezo e muitos abusos.
Este tema é muito complicado, mas o que é certo é que se tu quisesses trazer um para casa para tu criares não te deixavam é isto que eu não entendo
Um grande beijinho

Anónimo disse...

Isso é inacreditavel mesmo, alias isso é um absurdo, mas sera possivel que essas pessoas que de uma maneira ou outra estao ligadas a essas crianças, não tenham um gesto de carinho, de preocupaçao???