segunda-feira, outubro 09, 2006

Eu

Guardei durante muitos anos um texto (do tempo em que eu ainda não me atrevia ou não podia, dizer aos 4 ventos tudo o que pensava, sentia ou queria), pensava que o tinha perdido mas voltei a encontrá-lo.

Está escrito numa folha de dossier A4 quadriculada muito amarela e dobrada em 8, datado de 1985-12-26. É um texto que continua muitíssimo actualizado e a espelhar muito bem o que eu sou.

Foi um texto que mostrei ao meu caríssimo pouco depois de o conhecer para que ele tivesse consciência daquilo em que se metia, ficando comigo.
Se alguma vez achar que o texto já não é a minha cara vou guardá-lo na mesma para que nunca me esqueça do que fui.

Então aqui vai …

“Quando eu for velha, hei-de usar vestidos roxos
E, na cabeça, um chapéu vermelho que não combina.

Vou gastar o meu dinheiro em aguardente e luvas para usar no Verão
E sandálias de cetim, embora não possa comprar nem manteiga.

Quando estiver cansada, sento-me na calçada,
Vou pegar todas as amostras nos supermercados,
Vou tocar todas as campainhas de alarme,
Vou fazer barulho com um ferro pelas grades dos edifícios públicos,
Vou vingar-me da sobriedade da minha juventude.

Vou andar de chinelos na chuva,
Vou colher flores nos jardins dos outros, e aprender a cuspir no chão …

Quem sabe se devia começar agora,
Para que as pessoas que me conhecem não fiquem chocadas e surpresas,
Quando de repente eu ficar velha e usar roupas roxas.”


Durante todos estes anos e acho que graças a este texto, fui transformando-me em alguém que não deixa de dar opinião mesmo chocando as maiorias ou minorias, que se recusa a fingir, ou a concordar com algo só porque é de bom-tom fazê-lo.

Não vos posso dizer que sempre tomei a melhor opção, nem que foi sempre o melhor para mim, pelo contrário, a única coisa que vos posso dizer é que em qualquer altura da minha vida posso explicar as minhas acções porque sempre soube o seu motivo, mesmo quando é só “porque sim”.

Isto para uma Segunda-feira não está famoso, mas cada vez se aproxima mais o momento em que terei que me vestir de roxo e usar um chapéu vermelho.

6 comentários:

Unknown disse...

Chocar os outros, ser irreverente no aspecto penso eu que não é mais do que afirmar: "Vamos lá Ser directas!"

Usa e abusa do roxo e vermelho, afinal estamos no sec.21 ;) podemos dizer tudo e ninguem nos liga ..

RMSoares disse...

texto actual e que te reflecte :D

BAd disse...

E tens companhia, porque eu adoro vermelho e também o roxo, e porque também nunca fui uma pessoa concensual, e porque comigo também é 'ou se ama de paixão, ou se odeia', e porque também para mim nunca houve cinzento ou é branco ou é preto, e porque para mim também o que interessa é ter opinião e não ir pelas opiniões alheias...
E porque nunca ninguém me impede de dizer o que penso na cara das pessoas, mesmo sem o intuito de magoar e com toda a intenção de critica construtiva!!!!!!!!!!
Volto a repetir:
Tens companhia!
Beijinhos e não mudes

Anónimo disse...

Eu dou-te a mão, e iremos por aí, tocar às campainhas, atar os atacadores por baixo das mesas, lançar papagaios de papel.... Tem coisas em que nao envelheço mesmo.
Adoro ser como sou.

Alma Minha disse...

Ao ler o teu texto, fez-me gostar ainda mais de ti...
Também eu precisava escrever um texto assim... para encontrar na gaveta e não me esquecer de quem sou...
Boa semana
Bjs

Anónimo disse...

Avó Dina, uma velhota toda gaiteira! Parece-me bem ;)