Guardei durante muitos anos um texto (do tempo em que eu ainda não me atrevia ou não podia, dizer aos 4 ventos tudo o que pensava, sentia ou queria), pensava que o tinha perdido mas voltei a encontrá-lo.
Está escrito numa folha de dossier A4 quadriculada muito amarela e dobrada em 8, datado de 1985-12-26. É um texto que continua muitíssimo actualizado e a espelhar muito bem o que eu sou.
Foi um texto que mostrei ao meu caríssimo pouco depois de o conhecer para que ele tivesse consciência daquilo em que se metia, ficando comigo.
Se alguma vez achar que o texto já não é a minha cara vou guardá-lo na mesma para que nunca me esqueça do que fui.
Então aqui vai …
“Quando eu for velha, hei-de usar vestidos roxos
E, na cabeça, um chapéu vermelho que não combina.
Vou gastar o meu dinheiro em aguardente e luvas para usar no Verão
E sandálias de cetim, embora não possa comprar nem manteiga.
Quando estiver cansada, sento-me na calçada,
Vou pegar todas as amostras nos supermercados,
Vou tocar todas as campainhas de alarme,
Vou fazer barulho com um ferro pelas grades dos edifícios públicos,
Vou vingar-me da sobriedade da minha juventude.
Vou andar de chinelos na chuva,
Vou colher flores nos jardins dos outros, e aprender a cuspir no chão …
Quem sabe se devia começar agora,
Para que as pessoas que me conhecem não fiquem chocadas e surpresas,
Quando de repente eu ficar velha e usar roupas roxas.”
Durante todos estes anos e acho que graças a este texto, fui transformando-me em alguém que não deixa de dar opinião mesmo chocando as maiorias ou minorias, que se recusa a fingir, ou a concordar com algo só porque é de bom-tom fazê-lo.
Não vos posso dizer que sempre tomei a melhor opção, nem que foi sempre o melhor para mim, pelo contrário, a única coisa que vos posso dizer é que em qualquer altura da minha vida posso explicar as minhas acções porque sempre soube o seu motivo, mesmo quando é só “porque sim”.
Isto para uma Segunda-feira não está famoso, mas cada vez se aproxima mais o momento em que terei que me vestir de roxo e usar um chapéu vermelho.
6 comentários:
Chocar os outros, ser irreverente no aspecto penso eu que não é mais do que afirmar: "Vamos lá Ser directas!"
Usa e abusa do roxo e vermelho, afinal estamos no sec.21 ;) podemos dizer tudo e ninguem nos liga ..
texto actual e que te reflecte :D
E tens companhia, porque eu adoro vermelho e também o roxo, e porque também nunca fui uma pessoa concensual, e porque comigo também é 'ou se ama de paixão, ou se odeia', e porque também para mim nunca houve cinzento ou é branco ou é preto, e porque para mim também o que interessa é ter opinião e não ir pelas opiniões alheias...
E porque nunca ninguém me impede de dizer o que penso na cara das pessoas, mesmo sem o intuito de magoar e com toda a intenção de critica construtiva!!!!!!!!!!
Volto a repetir:
Tens companhia!
Beijinhos e não mudes
Eu dou-te a mão, e iremos por aí, tocar às campainhas, atar os atacadores por baixo das mesas, lançar papagaios de papel.... Tem coisas em que nao envelheço mesmo.
Adoro ser como sou.
Ao ler o teu texto, fez-me gostar ainda mais de ti...
Também eu precisava escrever um texto assim... para encontrar na gaveta e não me esquecer de quem sou...
Boa semana
Bjs
Avó Dina, uma velhota toda gaiteira! Parece-me bem ;)
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